terça-feira, 18 de março de 2014

ALERGIAS E INTOLERÂNCIAS ALIMENTARES: CHEGA DE DÚVIDAS SOBRE ELAS


* Texto elaborado pelo depto. científico da VP Consultoria Nutricional

Alergias e intolerâncias alimentares são cada vez mais comuns em nossa população, e uma das causas deste aumento de prevalência é a progressiva inserção de alimentos industrializados na cultura alimentar ocidental. Estes termos são muitas vezes confundidos, o que talvez se justifique pelo fato de um mesmo alimento poder desencadear os dois quadros ou por ambas serem reações adversas causadas por alimentos. A distinção entre alergias e intolerâncias alimentares foi tema de uma reportagem atual de uma revista de grande circulação no Brasil.

As alergias alimentares ocorrem após a ingestão de alimentos, envolvendo mecanismos imunológicos. Na maior parte das vezes, é causada por um componente proteico do alimento, estando assim, incorreto o termo “alergia à lactose”, já que esta substância, um carboidrato, não é capaz de estimular o sistema imune. Alergias podem ser imediatas ou tardias. O primeiro grupo é de fácil identificação, pois a reação ocorre instantes após a ingestão do alimento. Estas reações são hipersensibilidades tipo 1, mediadas por IgE. Em resumo, o mecanismo é este: um pedaço de proteína mal digerida entra na corrente circulatória, estimula a produção do anticorpo IgE, que induz a produção de mediadores como a histamina, responsável por sintomas como inchaço, vermelhidão e coceira. Alergias tardias são mais difíceis de serem percebidas, pois os sintomas podem aparecer até 4 dias após o contato com o alérgeno. Neste caso, outros tipos de anticorpos e células do sistema imunológico podem estar envolvidos, mas os sintomas são semelhantes. As alergias alimentares podem expressar-se como urticárias, dermatites, rinites, sinusites, asma, e até quadros graves como edema de glote e anafilaxia. Os alimentos mais comumente envolvidos em reações alérgicas de ambos os tipos são leite e seus derivados, derivados do trigo, frutos do mar, oleaginosas, soja, milho e ovos. Aditivos alimentares, a exemplo de corantes amarelos e vermelhos podem também causar alergias.

As intolerâncias alimentares são reações adversas a alimentos causadas por características do indivíduo, sem envolvimento de mecanismos imunológicos. Um exemplo clássico de intolerância é a intolerância à lactose, causada por insuficiência da enzima lactase, capaz de digerir o carboidrato do leite em glicose e galactose, que podem ser absorvidos. Sabe-se que adultos têm naturalmente menor quantidade de lactase em seu intestino, pois evoluímos para ingerir lactose apenas durante a infância. A intolerância à lactose pode ser causada por deficiência genética da enzima, quando é denominada “deficiência à lactose primária”. Este quadro é mais grave e raro. É detectado ainda na infância. Diarreias prolongadas, uso de laxantes e disbiose intestinal podem causar uma intolerância secundária à lactose, que é um distúrbio temporário e de menor gravidade. Os sintomas são, em sua maioria, gastrintestinais, como náuseas e diarreias, embora sintomas sistêmicos possam aparecer em virtude da deterioração da saúde intestinal.

Existem ainda reações tóxicas, causadas por substâncias presentes em alguns alimentos. As aminas bioativas são substâncias frequentemente associadas a estes quadros. Peixes, moluscos e crustáceos mal conservados podem conter quantidade significativa de histamina, e assim, quando ingeridos, podem mimetizar alergias. Alimentos fermentados como queijos e vinhos, assim como frutas, ao exemplo do abacaxi, contêm tiramina, uma amina bioativa associada principalmente a cefaleias, assim como a octopamina presente em frutas cítricas. Aditivos alimentares como realçadores de sabor, conservantes e corantes artificiais também podem causar reações deste tipo.

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