Fome ou Obesidade: médico pede atenção pelo equilíbrio
nutricional.
Ano após ano, é necessário alertar a população quanto à
conscientização sobre a situação atual dos nutrimentos e a evolução dos hábitos
alimentares. Enquanto de um lado é preciso dar atenção aos problemas de fome,
pobreza e desnutrição mundial, do outro é necessário cuidado com o
imenso crescimento dos casos de obesidade. O momento é de reflexão pelo
equilíbrio nutricional. Precisamos atentar, mais uma vez, sobre a
essencialidade de elevar a produção alimentar no mundo, além de reforçar a
importância de diminuir as desigualdades sociais e as dificuldades de acesso
aos alimentos. Em contrapartida, são necessárias mais políticas públicas
contra o aumento da obesidade e a aplicação de tratamentos medicamentosos para
controle da doença, que hoje já é um problema mundial.
Vamos refletir primeiro sobre a ausência
de alimentos saudáveis e essenciais nas dietas de toda população.
Sabemos que vários fatores podem agravar ainda mais a situação da fome mundial,
sendo o principal deles o crescimento previsto da população. Para atender a
estes novos comensais, calculou-se que a produção mundial de alimentos terá que
crescer cerca de 40% nos próximos 20 anos. O que fazer sobre isso?
Embora o crescimento populacional seja o mais sério fator
diante da necessidade de alimentos, há outros aspectos estressando ainda mais a
gravidade do cenário. Existem, por exemplo, três bilhões de pessoas novas
migrando para um degrau superior da pirâmide alimentar e que,
agora, estão consumindo mais carne, leite e ovos. Para produzir novos estoques
dessa proteína, serão necessários novos estoques de grãos. Assim, em nossa opinião,
somente o uso do conhecimento científico e das inovações dele decorrentes
permitirão que o mundo resolva a atual problemática dos alimentos. Será preciso
adotar culturas agrícolas que possam crescer em solos salinos, em regiões secas
ou passíveis de inundações. Tais culturas também precisarão resistir a ataques
de pragas e ser tolerantes a herbicidas, para que as aplicações de agroquímicos
sejam reduzidas ao mínimo.
Agora, analiso o outro lado da balança. Segundo o
Ministério da Saúde, em 2006, 47,2% dos homens e 38,5% das mulheres estavam
acima do peso, enquanto em 2011 as proporções passaram para 52,6% e 44,7%,
respectivamente. Em 2011, a Anvisa proibiu a comercialização dos medicamentos
anorexígenos utilizados para o controle da doença. A taxa de crescimento sobre a
incidência da obesidade, que era de 0,83% ao ano, há dois anos, passou para
4,5% ao ano, em 2012 e 2013, o que pode indicar ainda maiores dificuldades dos
pacientes na perda de peso.
A proibição desencadeia graves problemas de saúde pública
na população brasileira, com o aumento real dos casos de comorbidades
associadas à obesidade. Além disso, a pessoa com a doença sofre muita
discriminação, seja no trabalho, na escola ou em outros meios de convívio
social. O drama desses nossos pacientes nos choca. É preciso rever essa decisão
e esse é um alerta importante. Como médico nutrólogo e presidente da Associação
Brasileira de Nutrologia, que representa diversos especialistas do País, também
é meu dever auxiliar a população com informações corretas sobre os alimentos e
seu consumo, e a melhor forma de se conseguir uma boa saúde e bem estar físico
e psicológico. Nós, médicos nutrólogos, nos dedicamos ao diagnóstico,
tratamento e principalmente prevenção de doenças provenientes do comportamento
alimentar. Sendo assim, acompanhamos a rotina de nossos pacientes e observamos
como a alimentação é a base primordial de uma saúde adequada.
Demonstramos nossa obrigação em preocupar-nos com o
crescimento populacional que pressiona a oferta de comida, que também comprova
a urgência de se produzir mais e distribuir melhor o estoque mundial de
alimentos. Também, por outro lado, continuaremos na luta contra a obesidade.
Com isso, só podemos concluir que os hábitos devem ser os mais equilibrados
possíveis.
Por: Dr. Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e
presidente da Associação Brasileira de Nutrologia
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