No intestino humano, existem mais de
400 espécies diferentes de microorganismos que convivem em harmonia com o
homem. Esta é uma relação ecológica classificada como simbiose ou mutualismo,
pois ambos dependem um do outro para sua sobrevivência. Se não existissem estes
microorganismos, com certeza nosso sistema digestivo seria um prato cheio para
outros microorganismos patogênicos, favorecendo o surgimento de doenças no
homem. E tais espécies benéficas dependem das condições químicas e
físico-químicas do nosso intestino para poder sobreviver, como a baixa
concentração de oxigênio, temperatura em torno de 36°C e umidade.
Portanto, os PROBIÓTICOS podem ser
definidos como microorganismos vivos que, administrados em quantidades
adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro (Food and Agriculture ONU,
2001; Sanders, 2003). A influência benéfica dos probióticos na
microbiota intestinal humana inclui fatores como competição por nutrientes e
sítios de ligações celulares e efeitos imunomodularores direta e indireta,
resultando em um aumento da resistência contra patógenos. Quanto maior for
a concentração de probióticos no intestino, maior será sua capacidade
competitiva e, assim, maior a capacidade de defesa humana (Puupponen-Pimiä et
al., 2002).
O íleo e o cólon parecem ser,
respectivamente, o local de preferência para colonização intestinal dos
lactobacilos e bifidobactérias (Charteris et al., 1998; Bielecka et al., 2002).
QUAIS SÃO AS FONTES DE OBTENÇÃO DOS
PROBIÓTICOS?
Os probióticos podem ser obtidos pela
alimentação, especialmente por produtos lácteos devidamente cultivados, como
iogurtes, leites fermentados e alguns tipos de queijos. Além disso, para dietas
pobres em probióticos, é possível também consumi-los como suplementos
nutricionais, na forma de cápsulas ou envelopes, manipulados em farmácias ou
industrializados.
QUAIS SÃO OS EFEITOS BENÉFICOS NO
HOMEM?
Diversos estudos mostram benefícios
dos probióticos no homem. O quadro abaixo mostra por quais mecanismos atuam nos
respectivos sistemas:
Sistema
|
Função
|
Nutricional
|
Síntese de Vitaminas (B1, B2, B3,
B5, B6, B7, B9, B12, Vitamina K)
|
Digestivo
|
Síntese de enzimas digestivas
(lactase)
Regulação da peristalse, dos
movimentos intestinais e da absorção de nutrientes
Detoxificação intestinal (reduzindo
a absorção de materiais tóxicos e toxinas alimentares)
Atividade enzimática fitase-like (hidrólise
do Inositol Hexafosfato, liberando PO4- e íons)
|
Cardiovascular
|
Metabolização dos sais biliares e
aumento da demanda de colesterol sérico colesterol para produção de bile
|
Metabolismo
|
Produção e enzimas citocromo
P450-like que estimulam a expressão gênica do citocromo no fígado
Degradação e inibição da re-síntese
de hormônios
Conversão dos flavonóides às suas
formas ativas
|
Sistema Imune
|
Produção de antibióticos e
antifúngicos
Produção de ácidos graxos de cadeia
curta
Estímulo da maturação normal das
células do sistema imunológico
Efeitos imunomoduladores: modulação
de citocinas, aumento da atividade fagocitária, efeitos específicos na
resposta humoral, função dos linfócitos T e atividade das células natural-killers
Metabolização de medicamentos,
hormônios, carcinógenos, metais tóxicos e xenobióticos
Efeitos antimutagênicos,
antitumorais e antineoplásicos
|
Anticancerígena
|
Ligação a substâncias mutagênicas
Degradação de genotoxina e
promotores de tumor
Reparação e prevenção da lesão do
DNA
Aumento da atividade de enzimas e
processo de proteção a células contra carcinógenos
Aumento da apoptose de células em
proliferação
Produção de componentes bioativos
de membrana
Aumento da produção de muco,
diminuição do tempo de trânsito intestinal
|
QUAIS SÃO AS INDICAÇÕES DOS
PROBIÓTICOS?
Não existe um dado oficial sobre
recomendação de probióticos, como acontece com minerais e vitaminas, porém a
comunidade científica internacional entende que o papel dos probióticos no
organismo humano, está seus efeitos fisiológicos, porém existem evidências
mostrando que estes podem também ser utilizados com fins terapêuticos.
Existem fortes evidências científicas
no tratamento da diarréia infantil; diarréia associada à antibioticoterapia,
diarréia pós-radioterapia pélvica, síndromes de má-absorção de nutrientes,
pacientes com intolerância à lactose e na síndrome do intestino irritável.
Estudos clínicos mostram haver
efeitos na redução dos níveis de colesterol plasmático, da pressão arterial
sistêmica, da atividade ulcerativa por Helicobacter pylori, além do
controle da colite induzida por rotavírus e porClostridium difficile,
prevenção de infecções urogenitais, além de efeitos inibitórios sobre a
mutagenicidade (Shah, Lankaputhra, 1997; Charteris et al., 1998; Jelen, Lutz,
1998; Klaenhammer, 2001; Kaur, Chopra, Saini, 2002; Tuohy et al., 2003).
QUAIS AS DOSAGENS DIÁRIAS
RECOMENDADAS DOS PROBIÓTICOS?
Apesar de serem estudadas por várias
décadas, não existe um consenso terapêutico sobre a posologia dos probióticos para
uma determinada doença. Existem vários estudos clínicos comprovando sua
eficácia e segurança em diversas faixas de concentração, combinando ou não as
espécies. As doses de cada espécie varia numa concentração de 100 mi de
UFC até 1 bi de UFC, por dose posológica, segundo estudos clínicos. Existem
estudos com dosagem total de probióticos com 20 bi UFC, com bom perfil de
segurança.
Segundo alguns autores, é prudente
combinar as espécies disponíveis para obter melhores resultados, já que existem
diferenças quanto ao local de ação de uma cepa e outra, havendo assim uma
preferência entre o íleo ou o cólon, por exemplo. As referências citam que os
probióticos podem ter atividades enzimáticas distintas, o que poderia
ampliar a ação destes microorganismos no hospedeiro, trazendo assim melhores
resultados.
Um exemplo disso, é a atividade
enzimática dos Lactobacillus sp. na lactose, e as
Bifidobactérias com atividade imunomoduladora, estimulando a produção das
imunoglobulinas IgA e IgM (Saad, 2006).
É preferível consumir os probióticos
logo após as refeições, pois estudos experimentais mostraram que pode haver
degradação das cepas benéficas pela ação do suco gástrico. Ao tomar junto com
as refeições, ocorre uma “dilução” do suco gástrico e com isso, redução da
acidez, o que pode contribuir com a manutenção de suas concentrações.
EXISTEM REAÇÕES ADVERSAS, PRECAUÇÕES,
CONTRA-INDICAÇÕES PREVISTAS COM O USO DE PROBIÓTICOS?
Estudos clínicos controlados com
lactobacilos e bifidobactérias não revelaram efeitos maléficos causados por
esses microrganismos. Efeitos benéficos causados por essas bactérias foram
observados durante o tratamento de infecções intestinais, incluindo a
estabilização da barreira da mucosa intestinal, prevenção da diarréia e melhora
da diarréia infantil e da associada ao uso de antibióticos (Lee et al,
1999).
EXISTEM RISCOS DE INTERAÇÕES COM MEDICAMENTOS
COM O USO DE PROBIÓTICOS?
Deve-se evitar o uso concomitante com
antibióticos, pois pode haver redução da ação do medicamento. Porém, após uma
antibioticoterapia, é racional fazer suplementação de probióticos para
recolonizar a microbiota intestinal, já que estes medicamentos podem diminuir
as concentrações intestinais de probióticos, antes mesmo de serem absorvidos
pelo organismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário